quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Estação de Abandono da fé



O trem sairia em instantes. Mas não faria diferença adentrar um dos vagões ou permanecer na plataforma. Tudo que acreditara reger seu universo havia desaparecido. Não havia mais sentido algum no que quer que fosse. Sua mente, coração e espírito, acostumados a funcionar para um mesmo fim agora haviam se divorciado. Não sentia tristeza, nem dor. O que a desalentava era um vazio miserável, sufocante e constrangedor. Não sentia mais fome, frio ou desejo pelo que quer que fosse. Era um cadáver animado devido à inércia. Como seu corpo era acostumado ao movimento, assim permanecia. Havia perdido a guerra de vez. Venceram a agressividade, a maldade, a mentira, a feiúra, a covardia, a tristeza. Com isso seu espírito se tornou árido. Suas lágrimas drenadas junto a qualquer sentimento que anteriormente carregara consigo onde quer que fosse. O fogo que ardera dentro de si se extinguiu. Sua parte que buscava o belo, a bondade, pureza e a bravura em todos os instantes, desapareceu. A graça divina se pôs como o sol ao crepúsculo e não tornaria a nascer na manhã seguinte. Diante de tudo isso ela não procurou nenhum meio de fuga, nada que fizesse os músculos de seu rosto se retesarem num sorriso efêmero, incompleto. O trem se aproximava. Ela sabia onde aqueles trilhos terminariam. Ainda assim não sentiu medo. O trem parou e uma porta se abriu diante dela. Fitou mais uma vez o inclemente céu de chumbo acima de sua cabeça e entrou. Não se despediu, nem lamentou. E partiu. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário