O trem sairia em instantes. Mas
não faria diferença adentrar um dos vagões ou permanecer na plataforma. Tudo
que acreditara reger seu universo havia desaparecido. Não havia mais sentido
algum no que quer que fosse. Sua mente, coração e espírito, acostumados a
funcionar para um mesmo fim agora haviam se divorciado. Não sentia tristeza,
nem dor. O que a desalentava era um vazio miserável, sufocante e constrangedor.
Não sentia mais fome, frio ou desejo pelo que quer que fosse. Era um cadáver
animado devido à inércia. Como seu corpo era acostumado ao movimento, assim
permanecia. Havia perdido a guerra de vez. Venceram a agressividade, a maldade,
a mentira, a feiúra, a covardia, a tristeza. Com isso seu espírito se tornou
árido. Suas lágrimas drenadas junto a qualquer sentimento que anteriormente
carregara consigo onde quer que fosse. O fogo que ardera dentro de si se
extinguiu. Sua parte que buscava o belo, a bondade, pureza e a bravura em todos
os instantes, desapareceu. A graça divina se pôs como o sol ao crepúsculo e não
tornaria a nascer na manhã seguinte. Diante de tudo isso ela não procurou
nenhum meio de fuga, nada que fizesse os músculos de seu rosto se retesarem num
sorriso efêmero, incompleto. O trem se aproximava. Ela sabia onde aqueles trilhos
terminariam. Ainda assim não sentiu medo. O trem parou e uma porta se abriu
diante dela. Fitou mais uma vez o inclemente céu de chumbo acima de sua cabeça
e entrou. Não se despediu, nem lamentou. E partiu.
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