terça-feira, 29 de maio de 2012

Para ele: 

Ainda mais difícil que se afastar, era tirar de sua vida todos os vestígios dele. Os livros preferidos, os filmes, a risada, o cheiro de seu perfume misturado ao dela cada vez que se abraçavam. A lembrança de dias pesados que se tornavam suaves na compania dele. As tardes, as noites, as manhãs... a sensação que o tempo congelava e o mundo inexistia fora daquele quarto, do cinema, do café, do banco da praça. Bem como a velha sensação que o universo é um lugar frio e feio, mas enquanto o via se barbear no espelho e ajeitar os cabelos para trás era impossível se lembrar dessas coisas. Não havia o mal estar de existir, esse cancro que devora coração e alma de quem tem a ousadia de sonhar alto demais. Nada além de beleza e poesia que colocam tudo em seu devido lugar, harmoniosamente. Se aquilo era amor ou cilada seu espírito não saberia definir, mas era como mágica. Um truque do Houdini que atesta que antes da ilusão vem o encantamento. Aqueles eram dias doces, serenos. Os tais que os adultos depois de anos, envelhecem e contam a seus netos. Dias que endossam a ideia do poeta ao afirmar que a vida é mais que uma sucessão tediosa de terças-feiras."