Não sou a pessoa mais festiva em
semana de aniversário e normalmente parece que é necessário que algo sério
aconteça para que eu saia da minha redoma de autocomiseração nessa época. Não
tem uma explicação clara, mas completar primaveras tradicionalmente faz eu me
sentir num grau de depressão que só Virginia Woolf entenderia. Alguns anos
atrás eu estava me lamentando no quarto quando de repente tocaram a campainha
pra avisar que a cobertura estava pegando fogo. Eu dei um grito, chamei meu padrasto
e ele subiu feito um louco pra ver. Na verdade o incêndio vinha do apartamento
da frente que teve a área externa bem afetada, mas não chegou ao nosso. Ainda
assim os vizinhos se aglomeraram na rua assustados, uns gritando que tinha um
cachorro lá em cima e um deles até chegou a fazer menção de derrubar a porta
pra ver se ainda tinha alguém em casa, mas os bombeiros chegaram e fizeram o
trabalho necessário. Apesar da comoção o prejuízo da proprietária foi apenas
financeiro, o que devido ao estrago, representa uma boa notícia. Mas fato é que
nesse dia eu sempre acabo pensando que as coisas não estão como gostaria. Minha
mãe sempre faz minha torta de frutas preferida, meus parentes e amigos me
abraçam e recebo ligações de quem nem sabia que se importava. Me sinto querida num nível que me causa uma certa culpa, não me pergunte porque. Daí eu acabar precisando
de um empurrãzinho pra me tirar da inércia quando a data se aproxima e
normalmente vem em forma de algum choque. Agora que ele veio eu saí do estado
semi vegetativo para o amplamente acordada. Sinto muito Mrs. Dalloway, mas
antes de encher meus bolsos de pedras e entrar num rio, eu escolho continuar
dando minhas braçadas em mar aberto.
Rafaela Zampier.